Transformando a experiência do paciente: uma jornada de cuidado e acolhimento
- Tatiana Perazzolo

- 17 de fev.
- 4 min de leitura
Quem nunca se sentiu perdido em meio à correria de uma consulta médica? Aquela sensação de insegurança: Será que o profissional é o que realmente preciso? Será que minha dúvida será resolvida? Ou será mais um momento de espera interminável? E o que eu deveria ter trazido, mesmo?
Essas não são apenas dúvidas de um paciente qualquer. São reflexões que carrego de minha própria trajetória como filha e como profissional de saúde. Vivências que, mais do que me ensinaram sobre a fragilidade humana, me mostraram o quanto um bom atendimento e uma jornada acolhedora podem transformar uma experiência.
Em minha experiência, ao longo de mais de 20 anos de atuação no setor de saúde, tanto com pacientes quanto na gestão de processos voltados à experiência do paciente, percebo que muitas vezes o modelo de saúde parece não considerar o paciente em sua totalidade. A jornada começa de forma desorganizada, com pouca transparência e muita burocracia, o que causa a sensação de incerteza desde o primeiro contato.
A mudança de paradigma: de disease-centricity para patient-centricity
No passado, a saúde foi construída a partir de um modelo centrado na doença. O foco era tratar a patologia e não o paciente como um todo. O problema é que, muitas vezes, esse modelo deixa o paciente à deriva, sem clareza sobre os próximos passos, sem a acolhida necessária para que ele se sinta seguro e compreenda o processo.
Felizmente, vejo uma transformação acontecendo, mesmo que de forma gradual, no setor de saúde: estamos começando a migrar para um modelo mais centrado no paciente. No centro dessa abordagem está o conceito de patient-centricity, que busca compreender a jornada do paciente em sua totalidade e não apenas tratar a doença em si. Colocar o paciente no centro significa reconhecer suas necessidades emocionais, suas dúvidas e ansiedades, e não apenas os sintomas de sua condição clínica.
Humanidade no cuidado: o impacto direto na experiência do paciente
Por mais que a tecnologia e a inovação sejam ferramentas essenciais para melhorar a jornada, o maior diferencial para uma boa experiência do paciente continua sendo a empatia. Como profissionais de saúde, precisamos não apenas aplicar as técnicas certas, mas também estar dispostos a ouvir, entender e acolher o paciente. A jornada do paciente não pode ser apenas sobre resoluções clínicas, ela deve ser também sobre momentos de confiança, onde o paciente se sente amparado e respeitado em todas as etapas do processo.
Um exemplo pessoal disso é o que vivi ao lado de meu pai no cuidado paliativo. No momento mais difícil de sua vida, quando ele estava enfrentando um câncer metastático, o que mais fez diferença para nós foi a maneira como alguns dos profissionais de saúde o trataram. O cuidado foi tão além do físico, e me ensinou, de forma profunda, o que realmente significa humanizar a experiência do paciente. No entanto, tivemos muitas dúvidas que não foram respondidas, e meu pai poderia não ter tido seus desejos atendidos se eu não fosse da área, uma vez que questionaram a presença da família ao lado dele, como se a família fosse a causa da confusão, e não o diagnóstico de encefalopatia hepática e a metástase cerebral.
Com meu filho, por vezes fui chamada de insistente, mesmo conhecendo mais do que ninguém. Sofremos muito até o diagnóstico, mas encontrei profissionais que nos olharam na essência do cuidado, que me permitiram viver a maternidade dentro do hospital, participando do cuidado e das decisões. Infelizmente, ele partiu, mas até hoje recebo carinho desses profissionais, o que me fortalece na certeza de que a jornada do paciente deve sempre ser tratada com humanidade e respeito.
Transformação no atendimento: pequenas mudanças, grandes resultados
Na prática, a transição para um modelo centrado no paciente não precisa ser um esforço hercúleo. São pequenas ações que fazem toda a diferença. Como mencionei, em minha trajetória com a Humanativa, me deparei com diversos desafios dentro do atendimento em saúde, principalmente em clínicas de porte reduzido, onde a personalização do atendimento se torna fundamental.
Por exemplo, em uma clínica odontológica que acompanhei de perto, o foco não estava apenas nos implantes dentários, mas em entender as reais motivações dos pacientes: muitos deles aguardaram a aposentadoria para realizar um tratamento que, por questões de tempo e recursos, nunca havia sido possível antes. Com esse entendimento, a clínica não só ofereceu um serviço de qualidade, mas construiu uma jornada onde cada paciente se sentia acolhido, respeitado e, mais importante, visto como um ser humano completo.
Com isso, o consultório não só viu seu número de pacientes aumentar, mas também colheu resultados positivos em termos de recomendação. Um bom atendimento, somado a um toque humano, se transforma em um marketing espontâneo. O boca a boca é a ferramenta mais eficaz, principalmente em um ambiente onde as relações de confiança e empatia são os pilares.
O papel dos profissionais: a importância de cuidar de quem cuida
Um grande desafio que vejo, não só na prática profissional, mas também nas clínicas e hospitais com os quais trabalho, é a dificuldade de integrar essa visão humanizada nas equipes de saúde. Isso porque, muitas vezes, a falta de empatia e o estresse das equipes não são abordados de forma eficaz. É urgente que a gestão de saúde não apenas cuide dos pacientes, mas também cuide dos profissionais, oferecendo treinamentos, suporte emocional e integração. Quando os profissionais estão alinhados ao propósito de acolhimento, os resultados na experiência do paciente são inevitáveis.
Assim como todo processo de melhoria na experiência do paciente deve ser contínuo e adaptável, acredito que o primeiro passo é mapear a jornada, entender os pontos críticos e trabalhar a empatia em cada um desses pontos. A experiência é construída dia a dia, através de cada gesto, cada palavra, cada olhar.
Conclusão: O futuro da saúde está nas mãos de quem acredita na transformação humana
As mudanças no setor de saúde podem parecer desafiadoras, mas acredito que o caminho para uma verdadeira transformação está no olhar humanizado, na escuta ativa e na busca por resultados que vão além da cura física, mas que respeitam e cuidam da pessoa por inteiro. A Humanativa é um reflexo desse olhar, que valoriza o cuidado em sua totalidade e que visa transformar a experiência do paciente em algo mais profundo, respeitoso e impactante.
A jornada de transformação começa com cada um de nós. E, como sempre acredito, é nas pequenas ações que encontramos os maiores resultados.




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